Dia das Bruxas e fantasmas alemães — de onde vieram?

Entre fantasmas alemães e bruxas celtas, qual é o seu maior medo nesse Dia das Bruxas? Conheça a origem de muitos dos nossos pesadelos…
Ilustrado por Chaim Garcia

A gente não costuma parar para pensar de onde vieram as palavras que usamos. Seria do grego? Latim? Árabe

Aproveitando o clima de Dia das Bruxas, vamos entender de onde os nossos termos mais sombrios vieram e — no processo — aprender de que região vieram os nossos piores pesadelos.

Dia das Bruxas na Alemanha: Poltergeist

Um clássico dos filmes de terror: de Atividade Paranormal a O Fenômeno; os poltergeists são aquelas almas penadas que não podem ser vistas, mas conseguem afetar fisicamente o mundo a sua volta. Levitar objetos, arranhar, empurrar e todo tipo de ação concreta.

A palavra tem dois radicais vindos direto do alemão: poltern e geist. Em tradução direta significaria fantasma barulhento.

Poltern (fazer barulho, chacoalhar) tem sua origem na língua protoindo-europeia, falada na região próxima ao Mar Negro cerca de 5 000 anos atrás. Sua forma mais antiga bhel deu origem a outras palavras com significados parecidos, como a palavra inglesa bell (sino).

geist (fantasma) tem sua origem contestada. Pode ter vindo do inglês antigo gast ou mesmo do proto-germânico gaistaz dentre outros concorrentes. De qualquer forma, todos os termos carregam dois significados: tanto o de espírito maligno ou demônio quanto o de respiração, fôlego.

Dia das Bruxas no Japão: Tengu

Agora para horrores mais distantes, voamos direto para o Japão para encontrar a figura do Tengu: um monstro de face vermelha cuja característica mais marcante é o seu longo nariz (à la Pinóquio em um dia ruim).

Considerado um demônio ou um Deus maligno por muitos séculos, sua personalidade vem mudando ao longo dos anos. Nos últimos séculos a figura do Tengu vem sendo usada como um protetor (ainda que perigoso) e não como um tirano. Sua popularidade cresceu nas últimas décadas pelas suas diversas aparições em jogos com temática japonesa.

O termo em japonês Tengu vem diretamente do original chinês Tiangou (ambos usando os caracteres 天狗 e significando, ao pé da letra, cachorro divino nas duas línguas). O interessante aqui é que a lenda do Tengu faz parte da consolidação dos caracteres e palavras da língua japonesa que foram influenciados pelas diversas línguas da China até formar uma identidade própria e una.

Dia das Bruxas nos EUA: Creepy Pasta

Nem todas as lendas assustadoras têm séculos de idade — desde o início dos tempos as pessoas se juntam depois da meia-noite para contar histórias assustadoras. A internet só acelerou esse processo.

O termo creepy pasta (em tradução livre macarrão assustador) define justamente o tipo de horror que surge na internet em forma de boato.

Alguns desses contos acabam ganhando uma legião de fãs, como é o caso do Slenderman (homem fino), que ganhou diversos jogos de terror e até mesmo uma versão hollywoodiana. Essa criatura sem rosto, sempre portando um terno preto, persegue você com a intenção de atrair o seu olhar. Se você olhar por um instante sequer na direção do Slenderman, você morre.

Candle Cove (enseada da vela) é outro exemplo: um fórum de discussões on-line onde algumas pessoas se lembram de um programa de fantoches (chamado Candle Cove) a que costumavam assistir durante a infância. Conforme as conversas rolam, mais e mais detalhes inquietantes sobre a série vão sendo lembrados, como personagens que arrancavam a pele de crianças e usavam como roupas, episódios inteiros com crianças sendo torturadas e todo tipo de absurdo. Mas a pior parte é: os adultos eram incapazes de assitir ao programa, vendo apenas estática na televisão (e seus filhos olhando vidrados).

O horror não morreu, pelo contrário, está evoluindo.

Dia das Bruxas no Brasil: Curupira

A criatura caprichosa da mitologia Tupi, o Curupira acabou sendo “amaciado” pela cultura pop, como no Sítio do Picapau amarelo, onde é representado como um menino.

Mas para os índios o Curupira é um ser perigoso: sempre definido pela sua proeza física e cabelos avermelhados; é a ele que se atribuem os desaparecimentos misteriosos (e muitas vezes reaparecimentos mutilados) de índios pela mata densa.

De menino brincalhão o Curupira só tem uma coisa: a aparência. Por isso mesmo o seu nome é uma junção entre dois termos em tupi: corumi (garoto) e pira (corpo) — assim formando algo que no português ficaria parecido com “corpo de garoto”.

Bruxa

Tia Morgana lançando feitiços no Castelo Rá-Tim-Bum. As três sábias nos romances de Terry Pratchett. Uma entregadora voando em uma vassoura nos traços de Hayao Miyazaki. Uma câmera encontrada e três jovens desaparecidos perto de Maryland nos Estados Unidos.

A idéia da bruxa – mágica, perigosa e muitas vezes isolada – parece se propagar pelo mundo com muita facilidade. Segundo o escritor Terry Pratchett, as bruxas representam um outro tipo de mágica diferente da figura do mago de Merlin, uma mágica feminina em essência.

O termo evoluiu baseado no palavra brixtia da língua gaulesa — relacionada a feitiços e encantamentos. O interessante é que a língua gaulesa (sim, Asterix!) é uma língua celta, mais relacionada com o gaélico da Irlanda. Assim mesmo, variações desse termo (como o espanhol bruja e o catalão bruixa) sobrevivem até hoje em línguas latinas. Ironicamente, o território que costuma ser a terra dos gauleses, hoje parte da França, mesmo possuindo uma língua latina, resolveu adotar uma outra palavra para bruxas: sorcière — que, se traduzida ao pé da letra para o português, seria feiticeira.

Monstros! (Do latim monstrum)

Ok, eu admito! Entender de onde as palavras vieram deixa o Halloween um pouco menos assustador. Mas a verdade é que, para chegar ao nível de contar uma história de terror em francês ou polonês — algum chão precisa ser cruzado!

Querendo ou não, o que consideramos misterioso ou repulsivo tem a ver com as palavras que usamos para descrever o mundo.

Melhor ter menos medo do bicho-papão e aproveitar para ter menos medo da conversa durante a viagem de trem!

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